Como é namorar com uma pessoa com deficiência?

Namorar por si só em condições “normais” já um desafio, e no meu caso, ou melhor, no nosso caso, temos os 2 deficiência.

Sou um homem com uma doença neurológica e utilizo cadeira de rodas há poucos anos.

Não vos vou mentir: nunca pensei vir a ter uma relação amorosa com uma mulher com deficiência, também ela motora e dependente de terceiros (dependência essa que eu não tenho). Os desafios são diários, as barreiras são muitas… Mas aprendemos a encontrar soluções em conjunto, para tudo. Aprendemos a planear, aceitar ritmos, adaptar, a gerir expectativas e a conhecermo-nos todos os dias um pouquinho mais. Os nossos amigos e pessoas próximas sabem que quando nos convidam para cafés e jantares as acessibilidades são a “dobrar”.

Na intimidade/sexualidade foi um mundo novo: conhecer os nossos corpos, ter estratégias para a autonomia e a intimidade. E posso dizer, sem dúvidas, que a nossa sexualidade é plena e muito satisfatória!

Ela não era o que eu esperava… Mas este é o lado bonito do amor: surpreende-nos e ensina-nos…

Sou uma mulher com paralisia cerebral e utilizo cadeira de rodas. Durante alguns anos na minha vida não tive qualquer tipo de relação amorosa.

E ele não era o que eu esperava. Não pela deficiência em si, mas porque há vários anos que éramos bons amigos e tínhamos uma ótima relação. E um dia, de forma natural, o envolvimento acabou por acontecer.

Confesso que pensei se faria sentido assumir uma relação. Como ultrapassar as barreiras “em dobro”? Como fazer para projetar uma vida a 2, por exemplo? Será que ele não se iria cansar da minha dependência? Durante a noite, por exemplo, preciso que ele me ajude a posicionar e me apoie para ir à casa de banho, entre outras coisas. Como lidar com tudo isto? Até que ponto isto é saudável para uma relação? E sonhos de ter filhos? Fará sentido? Estas eram muitas das minhas inquietações… O que nos valeu foi a capacidade de conversar abertamente sobre tudo isto, com sinceridade e sem problemas ou vergonhas.

E creio que conseguimos. Arranjamos estratégias, apoios e adaptamo-nos um ao outro, vivendo os nossos dias com autonomia, liberdade e cedências como qualquer casal. Tenho a plena noção que a assistência pessoal foi um dos fatores que me permitiu – e permite – viver esta parte incrível da minha vida!

O que aprendemos sobre o amor? Que é algo que faz parte da nossa natureza humana. Que nos ensina e surpreende. Que, muitas vezes, não quer saber de expectativas ou idealizações.

Nenhum de nós “esperava” o outro. Mas a verdade é que o amor estava à nossa espera.

Herlander Correia & Ana Catarina Correia