Não ao discurso capacitista na Casa da Democracia!
Posted on: 26 Outubro, 2021Esta terça-feira, dia 26 de outubro, durante o debate do Orçamento de Estado para 2022, o Sr. Deputado Rui Rio usou a expressão “a Esquerda está numa cadeira de rodas e não tem quem a empurre” para reforçar a sua posição relativamente à situação de fragilidade e inércia em que se encontram as negociações para aprovação deste documento.
Ora, esta associação recorrente da cadeira de rodas a um objeto ao qual as pessoas com deficiência estão aprisionadas apenas revela o capacitismo que predomina na nossa cultura e política pública. Se fizermos um exercício de reflexão, facilmente compreendemos que, ao contrário da ideia transmitida pelo Sr. Deputado Rui Rio, a cadeira de rodas é exatamente aquilo que nos permite navegar e movimentar pelo mundo, sem permanecermos inertes e inativos perante a vida que nos rodeia. Na verdade, as verdadeiras prisões com que nos confrontamos são os muros invisíveis criados pelas barreiras estruturais, que nos condicionam os movimentos.
Equiparamos a importância da cadeira de rodas à da Democracia – ambas nos devolvem o poder, a independência e a autodeterminação. Através destes dois conceitos, aparentemente tão distantes, conseguimos alcançar o auge das nossas capacidades e potenciar ao máximo a nossa participação cívica e política. Tal como a Democracia, a cadeira de rodas confere-nos, não só a liberdade de escolha e o controlo sobre as nossas próprias vidas, mas também a possibilidade de exercermos uma cidadania ativa. Somos cidadãos e cidadãs de pleno direito e, como tal, não precisamos que nos empurrem para darmos voz e corpo àquilo que defendemos! As nossas cadeiras de rodas são comandadas por nós, assim como os nossos destinos e do nosso país.
Expressões equivalentes a esta (como por exemplo, “políticas deficientes”) são comummente reproduzidas em diversos contextos do nosso quotidiano, perpetuando a conotação negativa associada à deficiência. Esta associação livre não pode continuar, sob pena de as pessoas com deficiência permanecerem presas, não à cadeira de rodas, mas a uma narrativa que as descreve como seres frágeis e vítimas de uma fatalidade. É nossa convicção que esta é mais uma forma de desresponsabilização, tendo em conta os obstáculos permanentes que colocam à nossa existência.
É hora de mudar esta mentalidade e agir no sentido de integrar e afirmar positivamente que a deficiência existe e é uma experiência humana válida. Não tem de ser uma tragédia ou uma realidade distante, é sim uma característica de entre muitas outras que faz parte da condição de ser humano. No entanto, para que esta não tenha o impacto negativo a que o Sr. Deputado Rui Rio se refere, e para que não condicione a nossa vida, são necessários recursos que nos confiram igualdade de oportunidades, tal como a cadeira de rodas aqui em destaque.
Cumprindo a sua missão, o CVI reforça a sua posição pedagógica, continuando a defender os direitos das pessoas com deficiência e difundindo a sua experiência com que nos quiser ouvir. Por uma sociedade livre e sem opressões! Por um mundo em que a cadeira de rodas seja vista, não como uma prisão, mas como uma forma de liberdade!