A Pedra

Hoje vi uma pedra. Era uma pedra diferente porque todas as pedras são diferentes, mas aquela era ainda mais diferente, pelo menos, para mim que sou diferente dos indiferentes e nem uma pedra me deixa indiferente… Aquela não me deixou. Era a minha pedra ou era apenas a pedra que gostaria que fosse minha. Acho que nunca tive uma pedra idêntica à que vi hoje, que me fez parar e olhar para ela.
Não lhe pude tocar devido à altura da minha cadeira de rodas. Se tentasse baixar-me para ter a ousadia de lhe pegar, de lhe tocar, de sentir sua textura quase inexistente, correria o risco de bater com a cabeça nela e podia partir… a pedra!
Apaixonei-me por uma pedra, porque não? É natural. Uma pedra faz parte da natureza, logo, posso apaixonar-me por uma pedra, como por uma flor, uma árvore, um animal ou, simplesmente, por uma mulher qualquer.
Aquela pedra, naquele estranho espaço de tempo, não era um objeto banal, era a pedra preciosa que nunca tive e não consegui forma de a trazer comigo. Estava deleitada num recanto dum jardim fofo e verde, molhada por uma chuva miúda como ela própria, essa pedra tão doce, cor de mármore, veias artísticas, linhas curvas tão sensuais e minúsculas cavidades tão sedutoras.
As palavras são escassas para descrever tamanha beldade da pedra que nunca mais vi, porque fui cobarde e retirei-me da sua presença, afastamento marcado pelas rodas da minha cadeira elétrica.
Não a esqueço, só penso naquela que transformou meu coração… em pedra.
Escrever sobre AMOR, se não de forma poética, é, sem dúvida, uma tarefa complicada para um homem diferente que até tem na escrita a sua mais forte forma de comunicação. Paradoxal!
Apesar de não escrever, penso! E se penso, logo… insisto.
Se já tive tantos amores platónicos. Se gosto do ato de “gostar”, questiono-me frequentemente: Será um corpo “estranho” como o meu próprio argumento suficientemente válido para nunca ninguém me chegar a ver como um homem digno de ser amado? Talvez sim.
O que não quer dizer que eu tenha de aceitar esse fado que me é incutido e que, acredito, jamais o deixará de ser. Mas, e se, por mero acaso, me mudasse para outra região ou país, algo não seria diferente para alguém rotulado também de diferente? E diferentes, não somos todos? Até que ponto as diferenças corporais não fazem verdadeiramente falsas as politicamente corretas crenças culturais e ideais obscenos.
Este texto teria dezenas de “gostos” se terminasse com a tão badalada e sincera expressão “Amo-te!”, mas não estaria a ser sincero comigo próprio. Não sei se a amo.
Escrevi sobre “amor” de uma maneira menos aromatizada… Digo, de uma forma diferente.
Manuel Francisco Costa